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MeepleBR
  • Por: Márcio Botelho
  • Publicado em: 6 de outubro de 2022

Um dos mais aguardados do ano

No segundo semestre do ano passado eu fui ao escritório da MeepleBR para trabalhar em cima de alguns projetos que estávamos tocando na época (se me lembro bem o lançamento de Living Forest era o principal assunto da semana na editora). Assim que abri a porta fui surpreendido com a gigantesca caixa do Oath. Já haviam me dito que a MeepleBR tinha assinado o contrato com a Leder Games, editora gringa responsável pelo jogo, mas não sabia que a cópia para testes estava no escritório.

Fiquei com vontade de parar o que estava fazendo para poder abrir a caixa, mas tive que esperar a chegada do restante da equipe, duas reuniões, meia dúzia de e-mails e o almoço para poder me sentar à mesa e jogar essa belezinha.

A primeira partida foi bem intensa e a vitória só foi definida na última rodada, mas vamos com calma. Antes de falar do resultado da partida, é hora de entender o que é Oath.

Oath – Uma visão geral

Como a própria caixa do jogo se adianta em explicar:

Em Oath, de um a seis jogadores irão guiar a história de uma terra ancestral. Um jogador controla o Chanceler, que governa com punho de ferro e língua ardilosa. Os outros jogadores assumem os papéis dos Cidadãos buscando ser o sucessor do Chanceler ou dos desesperados Exilados tentando derrubar o Império.

Essa descrição já entrega boas informações sobre Oath: se trata de um jogo competitivo, assimétrico e com um universo cheio de história.

Quando digo que se trata de um jogo competitivo, estamos falando de um título em que os participantes vão precisar cumprir um objetivo antes dos seus adversários. Esse objetivo pode variar muito durante cada partida: controlar mais locais, controlar mais relíquias, obter uma determinada quantidade de fichas de segredo e mais uma série de outros objetivos podem aparecer durante a partida.

A assimetria de Oath se encontra na diferença entre o Chanceler e os Exilados. Os Exilados precisam usurpar o poder do Chanceler ou se tornarem visionários para suplantar o antigo regime. Já o Chanceler começa o jogo na frente, com mais locais e podendo oferecer cidadania aos outros jogadores em troca de ajuda. Jogadores que se aliam ao Chanceler viram Cidadãos, e passam a tentar ganhar o jogo ao se tornarem os sucessores do Chanceler.

Oath – Crônicas de Império e Exílio não é um nome aleatório. Oath de fato é um universo cheio de histórias. Essas narrativas aparecem pontualmente no manual, nas centenas de cartas, peças e elementos que compõem o jogo. Não é uma narrativa fechada e que fica evidente para os jogadores, como vemos em Tainted Grail, mas sim uma história difusa e fragmentada que vai atrair os mais curiosos, aos moldes do que vemos em Root.

E já que falamos de Root

As semelhanças entre Root e Oath

Não dá para negar: Oath possui muitos elementos em comum com Root, o primeiro jogo de grande sucesso da Leder Games.

A primeira semelhança é estética. A opção por seguir trabalhando com Kyle Ferrin, talentoso ilustrador que possui um traço bastante característico, faz com que os desavisados achem que Oath é uma expansão de Root ou algo do tipo.

Essa semelhança estética também é vista no design e uso dos componentes: assim como em Root, cada jogador possui um tabuleiro para gerenciar suas ações; as interações entre os participantes ocorrem em um tabuleiro central; os meeples de madeira ocupam locais no mapa e no geral servem como tropas; e as cartas são parte fundamental do jogo.

Além das semelhanças estéticas, Oath e Root compartilham alguns elementos de game design como o controle de área, as rolagens de dados para resolução de conflitos e a flexibilidade no uso das cartas.

Então quer dizer que Oath é uma espécie de “Root 2.0”?

As diferenças entre Root e Oath

A primeira diferença que eu senti durante a partida foi o fato de Oath ser um jogo com uma assimetria muito menos acentuada do que aquela vista em Root.

Em Root a assimetria está presente no estilo de jogo de cada uma das facções: Rapinas precisam programar as ações; Marqueses tem de gerenciar um número de ações limitadas; a Aliança da Floresta consegue espalhar simpatia pelas clareiras e explodir todos os inimigos de uma só vez; e o Malandro… bom, o malandro joga de um jeito totalmente fora do padrão.

Em Oath você não vai ver isso, pois as regras gerais de funcionamento do jogo são as mesmas para quem joga como Chanceler, Exilado ou Cidadão. A assimetria aparece nos objetivos de jogo e na forma em como o jogador consegue alcançá-los durante a partida.

Por conta desse fator, a explicação de Oath durante a primeira partida é muito mais simples do que a do Root. Depois de uma ou duas rodadas todos terão entendido muito bem como o jogo funciona, quais seus objetivos e como evitar que seus adversários vençam.

Outra diferença fundamental é a questão das rodadas fixas. Oath é jogado em até 8 rodadas, podendo se encerrar mais brevemente caso um dos jogadores consiga realizar seu objetivo. Essa situação faz com que os jogadores não se acomodem pensando que terão muito tempo para realizar seus objetivos: em Oath o tempo corre rápido e caso você vacile a vitória irá escapar dos seus dedos.

Um jogo emocionante

No começo da partida seguimos as instruções presentes no Guia de Jogo, um material que serve como uma espécie de manual abra-e-jogue, que dá instruções bem claras de como rodar sua primeira partida de Oath.

Após as rodadas introdutórias seguimos sozinhos e começamos a sentir o jogo em toda a sua complexidade. Cada jogador possui uma quantidade determinada de pontos de ação para gastar, não sendo possível fazer tudo que você gostaria durante o seu turno.

Quando as cartas de visão entraram em jogo, a partida começou a esquentar ainda mais. Essas são as cartas que adicionam novos objetivos para a vitória, fazendo com que fique mais complicado para o jogador avaliar os movimentos do seu adversário. Oath é daqueles jogos que você precisa cuidar dos seus objetivos ao mesmo tempo em que não descuida daquilo que os outros estão fazendo.

Quando o Chanceler me ofereceu a Cidadania para mim resolvi agarrar a oportunidade para tentar me tornar o sucessor e vencer a partida. Isso me levou a algumas batalhas que eu não queria lutar, porém me deixou muito próximo do poder e de uma traição. Essa é uma daquelas situações em que você deve manter os amigos por perto e os inimigos mais perto ainda.

Nas últimas três rodadas a vitória mudou de mãos ao menos 4 vezes, sendo que a partida na prática só foi decidida no último lance da última rodada: um ataque ousado do Chanceler que conseguiu retomar o seu domínio, conseguindo se sustentar mais um dia no poder.

Para além da primeira partida

Após a primeira partida os jogadores poderão salvar seu progresso e se preparar para uma nova partida em que as condições do mundo do jogo foram alteradas.

Isso faz com que a complexidade aumente aos poucos, conduzindo os participantes através de uma curva de aprendizagem suave, mas clara e que recompensa quem está jogando a mais tempo.

É interessante notar que esse progresso não envolve a destruição de componentes ou a alteração de elementos de jogo de forma permanente. Caso vocês queiram reiniciar a crônica, basta retirar as cartas que foram adicionadas ao baralho e começar tudo do início.

Em um mercado cheio de jogos e no qual muita gente não dedica tempo para explorar e aproveitar em profundidade um título, Oath opta por oferecer uma experiência rica, complexa e que cresce a cada nova partida.

Quem vai gostar de Oath

Oath me divertiu por boas horas, porém devo reconhecer que ele não é um título recomendado para todo o tipo de jogador.

Em primeiro lugar, é bom salientar que apesar de ser mais simples do que Root, Oath ainda pode ser enquadrado na categoria de jogos pesados: sua complexidade na BGG passa de 4.06/5, as regras adicionadas durante a crônica tornam a dinâmica bastante sofisticada e o tempo de partida, que pode passar de 2h, indicam que Oath é um jogo para quem curte desafios estratégicos de alto nível.

Outro atrativo é o incentivo a jogarmos mais de uma vez o mesmo jogo, de preferência com um grupo mais ou menos fixo de jogadores, para poder desfrutar de todas as nuances de seu incrível e complexo gameplay. Quem curte manter um grupo de jogo fixo vai amar Oath, pois esse é um daqueles títulos que vão fazer a cabeça da sua galera por um longo tempo.

Por fim, Oath é um espetáculo visual em todos os sentidos: artes belíssimas e com muita personalidade, componentes de madeira, cartas e cartonados de excelente qualidade e um mapa em neoprene que vai durar por muito tempo. Tudo isso, organizado em um insert plástico resistente e que faz com que as peças fiquem no seu devido lugar. Um jogo perfeito para quem curte um produto de altíssima qualidade.

Se você se encaixa em uma dessas três categorias, acredito que o Oath seja uma adição perfeita para a sua coleção.

Márcio Botelho

Raça: Humano. Alinhamento: caótico e bom. Classes: Historiador 6, Crítico literário 4 e Nerd 10. Se preparando para jogar como Chanceler.

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