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  • Por: Márcio Botelho
  • Publicado em: 16 de agosto de 2022

Tecnologia e diversão

Diversas tecnologias e invenções surgem a cada ano prometendo revolucionar a maneira como nós lidamos com o trabalho, com o lazer e com nossas atividades cotidianas.

Infelizmente, na maior parte dos casos essas inovações não modificam de maneira significativa a sociedade. Isso pode acontecer por uma série de motivos: o alto custo da nova tecnologia em relação as versões anteriores; o fato de as pessoas não verem a necessidade de uma mudança em seu modo de vida; além da óbvia questão de que algumas novidades simplesmente são ruins e ineficientes.

Quando a Apple lançou o seu primeiro iPhone, no hoje distante ano de 2007, muita gente acreditou que aquela seria mais uma invenção que não se firmaria na história da humanidade. Para alguns, smartphones poderiam ser um produto de nicho como os antigos iPods. Para outros, o produto da Apple seria mais um caso de promessa de revolução malsucedida, como aquele protagonizado pelo segway de Dean Kamen.

Mas essas pessoas estavam erradas.

Nos últimos 15 anos os smartphones se tornaram uma parte fundamental do cotidiano de bilhões de pessoas em todo o mundo. Trabalho, comunicação, consumo, relacionamentos, política e arte foram profundamente impactados por esses pequenos aparelhos que cabem na palma de nossa mão.

E é possível sentir esse impacto em uma forma de entretenimento que por muito tempo foi avessa às novas tecnologias: os jogos de tabuleiro.

Smartphones e jogos de mesa

Obviamente os jogos de tabuleiro surgiram muito antes dos jogos eletrônicos. Apesar das inúmeras diferenças, ambos guardam semelhanças como a questão da presença da aleatoriedade, a necessidade de planejamento, a possibilidade do desenvolvimento de narrativas e o potencial de conexão entre os jogadores que participam de uma partida.

Sendo assim, não é uma surpresa ver game designers talentosos se valendo das inovações tecnológicas, em especial dos aplicativos para smartphones, para poder renovar seus jogos e entregar uma experiência única para os participantes.

Em alguns casos o uso de aplicativos é facultativo, servindo mais como uma forma de simplificar a preparação do jogo ou permitindo que certas etapas sejam resolvidas de forma mais rápida. Você pode jogar normalmente sem o app, mas é inegável que ele facilita um bocado as coisas. Esse é o caso dos aplicativos dos jogos Recto Verso e Tainted Grail: o primeiro é um cronômetro que simplifica a contagem dos pontos a cada interação entre as duplas de jogadores; o segundo é uma versão digital do Registro das Explorações.

Outros jogos dependem de um aplicativo que deve ser baixado antes da partida. No geral, apenas um jogador precisa baixar o app para seu aparelho, pois será possível compartilhar o mesmo entre os participantes. Caso você não tenha o aplicativo em questão, não será possível jogar. Vemos esse tipo de aplicação em títulos como Descent: Legends of the Dark (em que o aplicativo assume às vezes de um dungeon master, apresentando os desafios para os jogadores e conduzindo a campanha) e Em Busca do Planeta X (aqui o aplicativo posiciona os objetos no sistema solar e cria um novo cenário de jogo a cada partida).

Essa divisão é boa, mas não compreende todos os casos. Anunciado em junho pela MeepleBR, Foto Perfeita, é um jogo que exige o uso de smartphones durante a partida, porém ele não se encaixa nas duas categorias listadas acima. Em Foto Perfeita cada jogador deve usar a câmera de seu celular para tirar fotos, tendo que usar essa imagem para fazer a contabilização dos pontos. O uso do aparelho é obrigatório, porém não é necessário instalar um app. Uma implementação inovadora e que vai de encontro a tendência de postarmos fotos de nossas jogatinas nas redes sociais.

Querela dos celulares

Como quase tudo na comunidade de fãs dos jogos de tabuleiro modernos, o uso de aplicativos não é uma unanimidade.

Quem torce o nariz para os apps tende a desconfiar desse tipo de tecnologia, afirmando que é possível simular boa parte de suas funções com mecânicas e componentes físicos como dados, cartas e outros elementos. Sob esse ponto de vista, os aplicativos não introduzem muita inovação, encarecem o desenvolvimento do produto e ainda podem contribuir para a perda de foco por parte dos jogadores mais desatentos.

Por outro lado, alguns jogadores acham que os aplicativos facilitam a experiência de jogo, tornam o hobby mais atrativo para quem está começando e ainda por cima podem diminuir a quantidade de plástico, papel e madeira gastos com a fabricação de board games (o que é uma preocupação válida em tempos de crise ambiental e das ameaças da poluição).

O sucesso comercial de títulos que usam aplicativos está aumentando a cada ano, o que indica que essa tendência poderá se firmar dentro do hobby, fazendo com que aquela famosa bronca no jogador que não larga o celular durante a partida se torne coisa do passado.

Márcio Botelho

Raça: Humano. Alinhamento: caótico e bom. Classes: Historiador 6, Crítico literário 4 e Nerd 10. De volta ao trabalho e correndo para deixar os podcasts em dia.

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