Velhos conhecidos
Recto Verso, jogo criado por Inka e Markus Brand e que será o próximo lançamento da MeepleBR, é uma reimplementação de La Boca, título da mesma dupla de designers e que foi lançado originalmente em 2013.
O conceito de reimplementação é bastante comum no mercado de jogos de tabuleiro e vem se fortalecendo nos últimos anos. De maneira resumida, podemos dizer que a reimplementação nada mais é do que o ato de se valer do tema ou das mecânicas de um jogo já existente para se criar um produto novo.
Mas será que as reimplementações são realmente necessárias ou apenas um sinal de que falta criatividade?
Olhando para o cinema
Filmes recentes como It – A Coisa (2017), Mulan (2020) e Amor, sublime Amor (2021), bem como clássicos da magnitude de O silêncio dos inocentes (1991), Enigma do Outro Mundo (1982) e Por um punhado de dólares (1964) são filmes importantes e que possuem um ponto em comum: serem releituras de obras feitas anteriormente.
Não é segredo para ninguém que o cinema movimenta bilhões de dólares todos os anos, sendo este um dos mercados mais competitivos e desafiadores da atualidade. Em um cenário cheio de armadilhas e com um público criterioso, os remakes, reboots e releituras fazem todo o sentido: é mais interessante para uma empresa apostar seu dinheiro em uma marca conhecida pela audiência e que já provou seu sucesso. Os NOVE filmes da franquia Velozes e Furiosos, a pesar das inúmeras críticas, mostram que marcas conhecidas são uma boa maneira de se fazer dinheiro.
Forma e conteúdo
Apesar de terem um alcance muito menor do que o dos filmes, os jogos de tabuleiro são um mercado muito ativo e dinâmico dentro da indústria cultural e que segue um comportamento bastante semelhante ao da Sétima Arte.
Diversos títulos bem-sucedidos do mercado são reimplementações como é o caso de London Second edition e Welcome to the Moon, o que indica que se você quer entender o que acontece na indústria de jogos de tabuleiro, é melhor prestar atenção às reimplementações.
Grosso modo, podemos dividir as reimplementações de board games em duas categorias:
- Reimplementações da forma: enquadram-se nessa categoria os jogos que utilizam as mesmas mecânicas de um título já estabelecido, mas que alteram a temática abordada. São exemplos dessa situação jogos como Skymines (reimplementação de Mombasa) e Astro Knights (reimplementação de Aeon’s End).
- Reimplementações do conteúdo: já que as mecânicas são o aspecto mais importante de um jogo, muitas vezes vemos um clássico tendo suas regras alteradas com a manutenção da arte e da temática conhecidas pelo público. Exemplos de reimplementações desse tipo incluem Expedição Ares (reimplementação de Terraforming Mars) e 7 Wonders Duel (reimplementação de 7 Wonders).
As reimplementações valem a pena?
Assim como acontece com os filmes, é muito comum vermos críticos e parte do público torcendo o nariz para as reimplementações.
No geral, as críticas se concentram no fato de que uma reimplementação seria uma jogada oportunista dos desenvolvedores de jogos. Segundo esses detratores, uma reimplementação nada mais é do que uma forma de se ganhar dinheiro fácil ao se apelar para o carinho e a confiança que os jogadores depositam em um jogo conhecido.
Outra crítica recorrente, é o fato de que reimplementações seriam um sinal da falta de criatividade por parte dos designers e de que elas seriam desnecessárias, posto que bastaria fazer uma nova tiragem de um título já estabelecido e com tema conhecido.
No geral as reimplementações que alteram as mecânicas sofrem mais com a primeira crítica. Já as reimplementações temáticas são alvo da segunda.
Penso que usar um universo já conhecido pelo público não obedece apenas critérios comerciais ou sejam um sinal de “preguiça”. Em muitos casos o criador de um jogo deseja apresentar uma nova abordagem sobre o universo ficcional previamente desenvolvido. Esse novo olhar permite que aspectos que haviam sido ignorados anteriormente possam ganhar mais destaque, o que serve como uma lufada de ar fresco para um ambiente previamente conhecido.
Já no caso da questão dos novos temas, prática conhecida popularmente como retheme, acredito que é importante observar um dado da nossa realidade: o tempo passa e a audiência muda. Certas ideias, visões de mundo e temáticas se tornaram ultrapassadas, problemáticas ou simplesmente saíram de moda com o passar do tempo. Para jogos nos quais o tema não é um aspecto central, a alteração da arte e do assunto abordado pelo título pode ser uma maneira interessante, e bastante criativa, de se oferecer um bom produto para uma nova audiência.
E você: gosta de reimplementações? Qual a sua reimplementação favorita?