O que as coleções dizem sobre nós
Colecionar objetos não é um hábito novo na história da humanidade.
A coleção de livros da dinastia ptolomaica do Egito Antigo foi a base da Biblioteca de Alexandria. Segundo o historiador romano Suetônio, Otávio Augusto, o primeiro imperador de Roma, gostava de adquirir moedas antigas e de lugares distantes. Na Itália do Renascimento, a Família Médici não só financiou artistas, mas também acumulava obras de arte do presente e do passado. E trazendo para o nosso século, o diretor Quentin Tarantino se orgulha muito da sua coleção de jogos de tabuleiro antigos.
No passado, o hábito de colecionar era algo ligado à nobreza e as elites econômicas de uma sociedade. Colecionar objetos demandava muito tempo, dinheiro e espaço, estando fora da realidade da maioria das pessoas. Não é por acaso que as coleções particulares de nobres e burgueses serviram de base para os museus que surgiram entre os séculos XVIII e XIX.
Com a industrialização, e o barateamento da produção, as portas do consumo começaram a se abrir para uma parcela maior da população. Se antes as coleções eram feitas com pergaminhos, pinturas e moedas antigas, agora havia a possibilidade de se colecionar garrafas de coca cola, latas de óleo de motor e sapos de porcelana.
As muitas faces do colecionismo
Mas é importante notar uma diferença entre a posse de alguns objetos e o hábito de colecioná-los. O colecionismo se desdobra em uma série de atividades como procurar e localizar novos itens para a coleção; organizar as peças do acervo; e é claro fazer a manutenção para que estejam conservadas.
Os colecionadores demonstram grande carinho e cuidado pelo seus acervos pessoais. A coleção expressa parte da identidade do colecionador, servindo como elemento importante em sua relação consigo mesmo e com as pessoas à sua volta. É possível dizer que a coleção é uma expressão da emoção do colecionador (e com essa rima eu acabo de matar o Olavo Bilac).
Colecionar jogos
Se as coleções se relacionam com os afetos, é meio óbvio que vejamos muitas delas ligadas aos jogos de tabuleiro. Jogar é uma atividade social e que faz parte de nossa socialização: através dos jogos conhecemos amigos, aprendemos a lidar com a derrota e com a vitória e nos emocionamos.
Assim como em outros colecionadores, quem decide colecionar jogos de tabuleiro vai precisar aprender uma série de macetes para poder manter a coleção em dia: verificar os leilões da Ludopedia para tentar encontrar títulos raros, descobrir oportunidades no ebay para adquirir jogos desconhecidos do seu autor favorito e entender a complexa legislação tributária brasileira são apenas o começo do hobby.
Conservar a coleção é outra atividade que toma muito do tempo dos colecionadores.
Afinal de contas, estamos falando de um produto feito com materiais que se desgastam com o passar do tempo e do uso. Todo colecionador de jogos precisa descobrir como higienizar as caixas, guardá-las da melhor maneira e manter seu conteúdo livre dos perigos representados pela umidade e por pragas domésticas como ratos e insetos.
Ou seja, colecionar jogos de tabuleiro é uma atividade trabalhosa e cansativa.
Vale a pena?
Honestamente não me considero um colecionador de jogos. A minha estante conta com menos de 20 jogos (e até o final do ano pretendo reduzir esse número a uma dezena), sendo assim estou longe de ter um acervo em casa que possa receber o título de coleção de jogos.
Ao conversar com amigos e conhecidos que possuem dezenas, muitas vezes centenas, de jogos de tabuleiro é sempre bonito de se ver o orgulho que essas pessoas sentem das suas coleções.
Cada caixa na estante guarda em si muito mais do que peças de madeira, dados e fichas cartonadas de papel. Cada jogo é uma história, um encontro de amigos, uma odisseia de leilão vencido no último lance. Por isso é tão complicado para essas pessoas se desfazerem de jogos em suas coleções, afinal de contas quanto vale uma memória feliz?