Brincando de fazer joias
Joias fazem parte da cultura de diversos povos espalhados pelo mundo. Adornar o corpo com peças feitas dos mais diversos materiais – ossos, conchas, gemas, metais, penas – serve para marcar distinção social, filiação a um grupo, devoção religiosa ou simplesmente para embelezamento.
Escavações indicam a presença dessas peças em sítios arqueológicos com dezenas de milhares de anos, o que demonstra que as joias fazem parte da vida dos grupos humanos há muito tempo.
Entretanto, joias não são algo que ficou no passado! Até os dias de hoje, encontramos adornos em uma parcela significativa da população. Talvez o exemplo mais comum de se ver no Brasil sejam os anéis de casamento, que além de servirem como peças de embelezamento, também marcam a aliança entre um casal apaixonado.
Se um elemento é tão presente na nossa sociedade, é natural que apareça em representações culturais como livros (Senhor dos Anéis), filmes (A Saga do Infinito, do Universo Cinematográfico Marvel) e é claro, jogos de tabuleiro.
Ourives – o jogo
Seguindo o caminho de títulos de sucesso como Splendor, Oaxaca: crafts of a culture, King’s forge e Queen’s necklace, o jogo Ourives aposta nessa relação estreita entre nossa cultura e os adornos corporais para entregar uma experiência cooperativa instigante.
Cada jogadora deve cuidar de sua própria oficina de fabricação de joias. Para isso, será necessário reunir recursos como ouro, prata e gemas para criar belos anéis, colares e brincos.
A obtenção desses recursos se dá através da interação entre as participantes em uma mancala, mecanismo que faz com que o jogo mude a cada ação, fazendo com que você tenha de prestar atenção a cada jogada feita por suas adversárias.
Mas não basta reunir as matérias-primas e fabricar as joias de maior valor: a vontade da clientela muda rapidamente nesse mercado, fazendo com que certas encomendas se valorizem rapidamente, o que dará vantagens significativas para a jogadora que prestar atenção a essas bonificações.
Ferramentas da artesã
Ourives desperta a atenção devido a sua seleção de mecânicas, em especial a mancala, os contratos, a gestão de recursos e os bônus de fim de partida. Essas estruturas são bastante tradicionais e encontram-se em jogos de diversos tipos, indicando que o diferencial de um jogo não necessariamente está em sua inovação mecânica, mas sim no bom arranjo das regras.
E esse é um caso claro de jogo que prende a atenção das jogadoras: a implementação da mancala, bastante simples e funcional, torna a coleta de recursos em um desafio interessantíssimo, bem como as flutuações na demanda de joias e os bônus de fim de jogo fazem com que seja difícil descolar os olhos da mesa de jogo.
As partidas em Ourives são intensas e emocionantes, ressaltando a qualidade do projeto.
Quem vai gostar de Ourives?
Acredito que apesar do apelo temático, o grande destaque de Ourives é proporcionar uma experiência de jogo intensa, descontraída e ao mesmo tempo estratégica, tudo isso em partidas que giram ao redor de 30 a 45 minutos.
Sendo assim, esse é daqueles títulos que tem potencial para ver mesa diversas vezes: para quem quer apresentar jogos para as amigas, Ourives é uma opção interessante, rápida e que serve para a introdução de mecânicas muito envolventes como a mancala, os contratos e o gerenciamento de recursos; se você é uma jogadora hardcore, Ourives pode ser aquele jogo mais leve e capaz de divertir você e seu grupo de jogo entre um pesadão e outro.
De uma forma ou de outra, esse jogo tem potencial para dar muito o que falar e te fazer sonhar com ser uma artesã.
A autora
Julia Varella é brasileira, cabocla da gema, geóloga, feminista, judoca, atriz de teatro amador, boardgamer, autora de jogos e o que mais vier pela frente.