Na semana passada, falei um pouco das nações que aparecem em Imperium Clássicos. Agora chegou a hora de falar da caixa Imperium Lendas e das incríveis opções de jogo que ela apresenta.
As oito nações dessa caixa são mais complexas e tendem a criar situações únicas em jogo, por isso ela é ideal para levar as suas partidas para um outro patamar.
As lendas são maiores que a história?
Em Imperium Lendas nem todas as nações são baseadas em lendas, como é o caso dos Egípcios, Minoicos, Olmecas e das dinastias Máuria e Qin, porém o que mais chama a atenção são as nações lendárias.
Quando falamos de lendas imaginamos grandes sagas e narrativas envolvendo figuras fictícias e/ou que se encontram além da compreensão humana.
Rei Arthur, Qin Shi Huang e Cú Chulainn e outros heróis e líderes se encontram nessa categoria de personagens que podem ter existido, mas que estão tão envoltos em mistério e em narrativas fabulosas que é difícil saber o que é fato e o que é ficção sobre suas trajetórias.
Em Imperium Lendas essas nações possuem uma dificuldade considerável, pois suas demandas e objetivos encontram-se em um patamar muito acima daquele que os meros mortais poderiam atingir.
Arturianos
Os arturianos são baseados nas narrativas ligadas à Matéria da Bretanha, um conjunto de canções e de histórias que falam de heróis e reis relacionados a história das Ilhas Britânicas.
Uma das fontes mais conhecidas para essas narrativas está na Historia Reggum Britanniae, texto do século XII escrito pelo sacerdote britânico Geoffrey de Monmouth, e que apresenta a figura lendária do Rei Arthur e de seus Cavaleiros da Távola Redonda.
As lendas sobre Arthur falam de um rei justo e bondoso, que conseguiu reunir ao seu redor os mais honrados e fiéis cavaleiros para proteger o reino e garantir a glória de Deus. Pesquisas históricas indicam que o Rei Arthur de Monmmouth nunca existiu, porém é evidente que as narrativas dele servem como uma janela para entendermos os ideais da cavalaria na Baixa Idade Média.
Quando jogar com os arturianos você estará diante de uma dificuldade considerável. Ao inves de se tornarem um império, os arturianos empreendem buscas pelo lendário Graal. Seus cavaleiros
são imprescindíveis, pois concedem benesses poderosas quando guarnecidos. Mande-os buscar por Myrddin Wyllt ou tome um caminho mais tenebroso e use os poderes de Morigena. Paira sobre você o espectro de Gwaith Camlan, a Batalha de Camlann, que será a ruína de seus cavaleiros e disseminará a desordem em seu reino.
Atlantes
A Atlântida aparece referenciada em escritos do filósofo grego Platão que viveu no Período Clássico (séc. V – IV a.C.). Em diálogos como Crítias e o Timeu, Platão refere-se a história de uma poderosa ilha que se localizava a “Oeste das Colunas de Hércules” (referência ao Estreito de Gibraltar), e que tentou invadir a pólis de Atenas milhares de anos atrás. Os Atlantes fracassaram em seu intento e por fim sua ilha teria sido submergida de uma só vez pela fúria dos deuses que se ofenderam com a arrogância dos atlantes.
A narrativa platônica pode ser associada à húbris, o conceito grego de excesso e exagero capaz de gerar sofrimento e caos, sendo encarada pelos gregos da Antiguidade como uma história exemplar e não como um fato histórico.
Somente na época Moderna, com a redescoberta de textos platônicos que haviam sido perdidos durante a Idade Média, que alguns leitores passaram a encarar a Atlântida como uma possibilidade real e não apenas como parte das lendas.
No controle dos atlantes, você já começa como império, o que significa que terá como usar as poderosas cartas de civilização desde o início da partida. Mas também quer dizer que você terá de garantir um suprimento constante de recursos para continuar se desenvolvendo. A Atlântida vive sob a ameaça constante das inundações, e você terá de priorizar a busca por novas para não correr o risco de ver sua nação afundar de vez. Mas a elevação das águas traz recompensas que, se usadas com sabedoria, vão transformar sua nação e seu povo em verdadeiros mitos e lendas.
Egípcios
Antes de falar dos egípcios é importante deixar uma coisa bem clara: as pirâmides e templos do Egito Antigo não foram construídas por alienígenas do passado.
Se você vier com o argumento de que são obras grandiosas demais para um povo primitivo fazer, só tenho de que te dizer duas coisas: os egípcios possuíam uma série de tecnologias e saberes que ainda estamos descobrindo; e já reparou que sempre se coloca em dúvida a capacidade de povos não europeus de construir grandes obras de engenharia?
Feito esse esclarecimento, podemos falar dessa que foi uma das mais duradouras e prósperas civilizações da Antiguidade.
O Egito Antigo esteve diretamente ligado com o surgimento das técnicas de irrigação que permitiram aquele povo utilizar toda a prosperidade trazida pelas águas do Rio Nilo. Os dois principais territórios as margens do Nilo, o Alto eu Baixo Egito, foram unificados por volta do século XVII a.C. e por quase dois mil anos os Faraós governaram as terras do Egito.
A adoção de uma teocracia altamente centralizada na figura do faraó era possível devido a uma sofisticada rede de sacerdotes e funcionários públicos, os famosos escribas, que eram sustentados por uma massa de trabalhadores servis que adoravam a figura do imperador divino.
No controle dos egípcios, você erige um império. São tantas as oportunidades de desenvolvimento que você vai querer avaliar com cuidado a sequência de cartas para ampliar seu baralho. Já que sua infraestrutura fica principalmente às margens do famoso rio do Egito, as frequentes cheias do Nilo podem trazer novas oportunidades de crescimento, e você vai querer ficar de olho no mercado, atento às cartas de civilização decisivas.
Máuria
O Império Máuria foi o maior e mais poderoso império a se instalar no subcontinente indiano.
O império foi fundado por Chandragupta Máuria, reconhecido por muitos o primeiro Imperador da Índia, e se estabeleceu através de grandes vitórias militares que submeteram seus adversários que disputavam a hegemonia da região. Durante seu reinado foram estabelecidas as bases para um eficiente e próspero sistema de finanças e de administração, o que contribuiu para uma grande integração econômica do Império.
O destino do Império Máuria se transformou durante o reinado de Asoka, um imperador que testemunhou os terrores da guerra e resolveu abandonar a tradição védica ligada ao militarismo e abraçar o budismo e a crença na paz.
No controle dos Máuria, você vai querer partir para a agressividade enquanto expande sua nação, usando os fortes elefantes indianos à sua disposição. Ao se tornar um império, você terá de decidir se continuará se expandindo e buscando glória ou se seguirá Asoka e um caminho pacífico para a vitória.
Minoicos
A civilização minoica se estabeleceu na Ilha de Creta e prosperou durante a Idade do Bronze, antecedendo a civilização grega em alguns milhares de anos.
Os minoicos eram navegantes e construíram excelentes rotas de navegação no Mediterrâneo Oriental, estabelecendo contato com Egípcios e com os habitantes da Grécia Continental, o que fez com que suas proezas fossem registradas por outros povos.
A ilha de Creta e seus reis estiveram presentes no imaginário dos gregos, em especial as narrativas envolvendo o poderoso Rei Minos, seu gigantesco palácio e as peripécias envolvendo o lendário inventor grego Dédalo e a construção do Labirinto de Cnossos que teria abrigado o terrível Minotauro.
O desaparecimento da civilização minoica é envolto em mistério, mas muitos historiadores atribuem essa questão a um colapso civilizacional que envolveu desastres ambientais, invasões estrangeiras e conflitos internos.
No controle dos minoicos, você provavelmente vai se concentrar em fichas de progresso, pois vai precisar disso para desenvolver. Administre com cuidado seu suprimento de fichas de população para criar belas peças de cerâmica, mas atenção ao ícone barbárie da carta: se abandoná-la depois de se tornar um império, você não conseguirá mais colocá-la em jogo. Mantenha a eficiência da nação sabendo escolher as cartas importantes e use seus sistemas de escrita para enviar as cartas sem importância aos anais da história.
Olmecas
A Civilização Olmeca lançou as bases para os povos que se estabeleceram na mesomérica, como os Maias e os Astecas, sendo notória a sua influência cultural sob os impérios que se formaram na região.
Os olmecas construíram pirâmides, o que indica que dominavam a engenharia, bem como desenvolveram o primeiro sistema de escrita das Américas. Tudo indica que eles conheciam a noção de zero e que eram exímios astrônomos, posto que desenvolveram dois sistemas de calendário para contabilizar a passagem do tempo.
As enormes máscaras de pedra olmeca aparentemente possuíam grande importância religiosa para os olmecas, sendo até hoje atrações turísticas muito visitadas em sítios arqueológicos no México.
No controle dos olmecas, você fará uma partida bem diferente em comparação com a maioria dos outros jogadores. Não encontrará prosperidade, conquistar, avançar nem glória entre as cartas do seu baralho e terá de confiar nas suas máscaras de pedra. As máscaras são um recurso complicado: permitem que você compre mais cartas e acione suas cartas, mas só rendem pontos de vitória quando estão na sua história. Administrá-las com cuidado será a chave do seu sucesso.
Qin
Qin Shi Huang Di foi um poderosos líder militar e político e é considerado o primeiro imperador da China.
Sob o reinado da Dinastia Qin, os chineses viram a consolidação das bases de uma civilização de mais de 2000 anos. A centralização política e a construção de um imponente sistema de defesa contra os povos das estepes, que viria a dar origem a Grande Muralha da China, são marcas desse governo.
A paz trazida pela Dinastia Qin permitiu que a cultura chinesa prosperasse em diversos campos como as artes e a filosofia: data desse período o surgimento de escolas de pensamento importantes como o confucionismo e o legalismo.
Jogar com os Qin é tomar decisões difíceis. Os líderes poderosos governam com o mandato celestial, mas essa liderança vale mesmo o fardo que acarreta? Como escolher entre os dois sistemas rivais, o confucionismo e o legalismo? E, na condição de império, você vai investir o tempo necessário na construção de muralhas extensas ou focar em outros objetivos?
Utopianos
A palavra utopia é de origem grega e significa “lugar nenhum”. O termo foi utilizado pelo religioso e filósofo inglês Thomas Morus, que no ano de 1516 publicou o livro Utopia.
A obra de Morus trata de uma ilha distante e que possuiria um governo perfeito e na qual os líderes políticos são justos, a população é respeitada e tudo segue em grande paz e harmonia. Utopia é uma crítica aos governos da época de Morus, servindo como um libelo político contra os tiranos e maus governantes.
Em Imperium Lendas os utopianos misturam esse conceito de governo perfeito com as narrativas a respeito de Shangri-la, localidade fictícia criada pelo também inglês James Hilton em 1933.
Shangri-la estaria escondida entre as Montanhas de Kunlun, uma extensa cordilheira localizada na China. A cidade secreta seria o lar de sábios e místicos poderosos, possuindo uma série de segredos ancestrais desconhecidos pelo restante da humanidade.
Os utopianos são diferentes de todas as outras nações… em todos os aspectos. Você não tem baralho de nação nem cartas de desenvolvimento e não vai querer esgotar seu baralho rapidamente. Em vez disso, vai concretizar suas visões de Shangri-lá e gastar recursos para avançar na direção da mítica cidade de Shangri-lá. Estude suas cartas – e seus oponentes – com muita atenção, pois terá de decidir quais vão servir a seus propósitos e quais vão atrapalhar você em sua jornada rumo à Utopia.
E essas são as nações de Imperium Lendas. Se você é um fã de jogos deckbuilding e se amarra em temas históricos, com toda certeza esse jogo vai ver muita mesa na sua casa.
Mas comente com a gente: qual nação mais chamou sua atenção?
