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  • Por: Eduardo Felipe
  • Publicado em: 5 de agosto de 2020

Os jogos e o Caribe

Ahoy! Bucaneiros, corsários e caribenhos! Ahoy! Empurradores de cubos e roladores de dados! Ahoy! Turistas que só querem curtir uma praia bonita, escondam seu ouro!

Hoje vamos falar de uma região muito explorada nos jogos de tabuleiro, o Caribe! Então, você sabe onde começa a história dessa região do continente americano? Primeiro, guarde seu mapa do tesouro e vamos esquecer um pouco da pirataria e batalhas navais com canhões e pólvora!

Invasão europeia e disputas

Foi nas Antilhas, ou Ilhas Caraíbas, que Cristóvão Colombo chegou em 1492 achando que tinha chegado às Índias, mas na verdade tinha chegado na atual Bahamas, que naquela época chamou de San Salvador. Lá ele fez contato com os nativos Lacayanos nas Bahamas e Tainos em Cuba. E foi aí que começaram os saques! Foi a partir da chegada de Colombo na América que começaram as invasões europeias através de missões colonizadoras onde no principio se acreditavam serem as Índias, e por muito tempo as Antilhas foram chamadas de Índias Ocidentais, mesmo depois de os europeus terem constatado a descoberta de um novo continente.

O continente americano foi sendo descoberto e colonizado sob a influência da cultura europeia, quase que totalmente pelos espanhóis, que procuravam riqueza na América, escravizando a população nativa ao ponto de quase levá-los a extinção, e então para complementar a falta de trabalho nativo, começou a escravização de negros africanos. Logo outras potências da Europa começaram a chegar ao Caribe, mais especificamente Inglaterra, Holanda e França, e tentavam assim estabelecer lá suas próprias colônias e de alguma forma obter algo rentável.

Ok, mas queremos saber dos jogos! Onde que essa história toda vai dar, e em quais jogos? Pois bem, vamos lá!

Ilhas de jogos

As outras potências da Europa foram chegando no Caribe, como eu já disse, mas não foram chegando pacificamente, e acho que isso você já imaginava! Houve um corsário inglês que atacou diversos navios e fortes espanhóis no Caribe, sua mais famosa expedição foi o ataque a colônia Nombre de Dios onde capturou um comboio espanhol de prata. Arrisca adivinhar o nome desse corsário? Pois é, seu nome era Francis Drake!

Em uma carta aos reis da Espanha, Colombo chegou a mencionar que as terras nas Índias (sim, ele ainda achava que a América era as Índias) eram férteis e ótimas para a exploração do açúcar. E durante a colonização do Caribe foi o que aconteceu, além da Espanha, as demais potências europeias exploraram as terras da América introduzindo aqui um sistema de plantio para sustentar as necessidades na Europa. E dessa forma foram nascendo cidades nas ilhas do Caribe, cidades quase tão complexas como as da Europa, com um sistema político e administrativo, e uma economia extrativista para atender às necessidades da metrópole. San Juan, em Puerto Rico e Santo Domingo são dois bons exemplos dessas cidades.

Com toda essa atividade econômica no Caribe, por motivos peculiares algumas cidades foram ganhando fama, trago aqui o caso de Port Royal, na Jamaica. Lá pelo século XVII ela ganhou a fama de a cidade “mais rica e mais perversa” do mundo, pois era notável pela sua rica economia e total falta de valores morais, visto que se tornou um ponto favorito para o desembarque de piratas, que traziam e gastavam ali o seu tesouro. Era uma rota de comércio entre a Espanha e o Panamá, clamada originalmente pela Espanha, mas depois adquirida pela Inglaterra. Mas o tempo foi passando e os ingleses não mandavam guardas nem dinheiro para a defesa do lugar, o governo da Jamaica então recorreu aos piratas para defender as cidades das invasões francesas e espanholas. A pirataria se tornou tão popular e tão grande no mar do Caribe que surge no início do século XVIII em Nassau, uma ilha das Bahamas, um governo informal regido por um código de conduta que ficou conhecido como República dos Piratas.

E assim que os piratas foram ganhando popularidade no Mar do Caribe, as potências da Europa tiveram que tomar providências quanto ao crescimento das suas atividades, porém era muito caro enviar e manter uma frota de navios tão longe da Europa, apenas para defender as colônias. E foi assim que navios privados passaram a ser enviados como uma “marinha”, mas com uma carta de corso – um documento oficial assinado por um governo que autorizava o portador atacar navios (piratas) e bases inimigas – e o pagamento seria feito através de uma fatia generosa de tudo que pudesse ser saqueado de navios e assentamentos inimigos, o resto ia todo pra coroa. Esses eram os Corsários.

As três fundações de Maracaibo

Em meio a toda essa “guerra” entre piratas e “piratas com autorização”, as atividades econômicas entre as colônias e as metrópoles continuavam, muitos navios eram saqueados no caminho e muitas colônias eram invadidas em terra, um caso curioso é Maracaibo, na atual Venezuela, que foi fundada três vezes!

A primeira vez foi fundada por banqueiros alemães que receberam do Rei Carlos I da Espanha a concessão para administrar aquelas terras, onde fizeram a primeira expedição até o Lago Maracaibo, onde houve um conflito com indígenas. Após uma série de batalhas os alemães fundaram um povoado e deram o nome de Nova Nuremberg. Mas o local acabou ficando por um bom tempo sem atividades comerciais e a população acabou sendo transferida de lá. Algum tempo depois o povoado foi então tomado pelo capitão espanhol Alonso Pacheco, que sofreu um duro golpe ao ser atacado por indígenas, sendo forçado a recuar, essa foi a segunda tentativa de fundação. Alguns anos mais tarde, agora sob o comando de Pedro Maldonado, o povoado foi fundado novamente, pela terceira vez, agora com o nome de Nueva Zamora de Maracaibo que então começou a prosperar. E mesmo após três tentativas de fundação, Maracaibo não ficou livre da invasão e ataque de piratas, tendo sido talvez uma das cidades mais atacadas no continente, chegando a sofrer com uma invasão de mais de 700 homens em meados do século XVII.

Fim de jogo para a pirataria

A pirataria no Caribe foi ficando grande, e através da força não ia ser possível combater a pirataria. Foi quando o Rei George I pensou em uma forma um pouco mais “diplomática” de lidar com a situação, a emissão de uma proclamação real em 1717, que dizia que qualquer pirata que se rendesse dentro de um ano a partir da assinatura do decreto teria total perdão de todos os atos de pirataria cometidos até janeiro de 1718, os que continuassem seriam caçados. Esse decreto pôs uma cisão na República dos Piratas, divididos entre aqueles que estavam na pirataria por dinheiro e não viam a hora de receber o perdão real e investir o dinheiro do saque, e do outro lado havia aqueles que viam o dinheiro como um mero detalhe, eram rebeldes e estavam contra tudo, inclusive contra o Rei George.

No mesmo ano de 1718 Woodes Rogers é nomeado governador das Bahamas, e em sua administração se tornou um dos maiores caçadores de piratas. E com centenas de piratas aceitando o perdão real e a execução dos que resistiram, chega ao fim a era de ouro da pirataria.

A pirataria continuou ainda por um tempo, longe do Caribe, onde nunca mais retornou com a força que teve no passado.

Espero que tenham gostado!

Eduardo Felipe

Carioca, vascaíno, professor de história e especialista em uso de mídias audiovisuais no ensino de história. Também foi o criador do blog e podcast Jogada Histórica e do jornal fictício Polemeeple. Joga RPG desde 1994 e entrou para o hobby dos Board Games modernos em 2009, quando jogou Catan pela primeira vez no Encontro Internacional de RPG em São Paulo. Atualmente se dedica mais ao JH Poscast e ao canal do Jogada Histórica na Ludopedia, onde fala sobre jogos de tabuleiro com temática histórica.

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