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  • Por: Márcio Botelho
  • Publicado em: 6 de setembro de 2022

Rodando por aí com o rondel

No competitivo mercado dos jogos de tabuleiro modernos, certas mecânicas são muito populares e aparecem em diversos títulos disponíveis no mercado. Alocação de trabalhadores, controle de área, colocação de peças, vaza e seleção de cartas são bastante comuns e possuem fãs espalhados por mesas de todo o Brasil.

Entretanto, algumas mecânicas não recebem tanta atenção dos game designers e acabam ficando um pouco de lado. Isso se explica por uma série de fatores, sendo os principais a complexidade desse elemento de regra ou então a dificuldade de inovar e atrair a atenção dos consumidores.

Entretanto, em alguns momentos estas mecânicas pouco usuais podem ser adotadas por um jogo novo, o que expressa em certa medida o desejo da equipe envolvida no projeto em arriscar ao trabalhar com algo que é pouco usual para muitos entusiastas do hobby.

O cálculo aqui é semelhante ao que vemos em vários jogos que adotam o elemento sorte: adotar uma mecânica inusual pode despertar a atenção dos consumidores, mas ao mesmo tempo existe o risco de que essa opção obtenha uma recepção amena por parte de quem joga.

O que é um rondel?

Levando em conta a descrição da sessão anterior, o rondel se encaixa perfeitamente nessa categoria: poucos jogos no mercado utilizam o rondel e sempre que essa mecânica aparece isso faz com que muitos jogadores e jogadoras se perguntem a respeito do que se trata esse mecanismo de jogo.

Um rondel consiste basicamente em um componente do jogo, ou uma área impressa no tabuleiro do jogador ou no tabuleiro principal, no qual os jogadores vão selecionar a ação que desejam executar. Esse componente tem formato redondo e dividido em áreas que o jogador poderá utilizar ao colocar um marcador ou seletor de ações. No geral, a movimentação no rondel segue um sentido fixo, sendo comum que quanto mais movimentos o participante queira executar, mais custosa será a movimentação pelo rondel.

Com essa descrição é possível que você esteja se perguntando: qual a diferença entre um jogo com rondel, como Viscondes do Reino Ocidental, e um jogo com seleção de ações, como Brazil Imperial?

Apesar da semelhança, é possível afirmar que os jogos que usam o rondel se diferenciam devido à adoção de uma noção de tempo cíclica e que reflete uma série de processos humanos como o plantio, caso de Triora: Cidades das Bruxas, as atividades políticas, como em Virtù: a Arte de Governar e a construção civil, como visto em Red Cathedral.

Essa noção cíclica de tempo, na qual os processos possuem uma ordem preestabelecida e que se repete incessantemente, lembra muito aquilo que é observado no tradicional jogo de mancala, estimulando o planejamento de longo prazo dos participantes que vão se beneficiar caso consigam traçar seus objetivos de forma clara.

Parece, mas não é

Alguns jogos de sucesso no mercado são conhecidos por utilizarem um componente que lembra muito um rondel, como é o caso dos tradicionais Jogo da Vida e El Grande, que utilizam respectivamente uma roleta e um seletor de regiões em sua estrutura.

Apesar da semelhança, esse tipo de componente não se constitui como um rondel, posto que um rondel não é definido apenas pelo seu formato, mas sim pela noção cíclica do funcionamento das ações e em como isso traz uma limitação estratégica interessante para os jogadores e jogadoras.

Um exemplo de jogo que usa peças semelhantes ao rondel, mas que não se encaixa nessa definição, é o Street Art de Rennan Gonçalves. No jogo, discos devem ser manipulados para se obter recursos, no caso tintas, que serão utilizadas para se pintar um mural. Apesar do custo de movimentação aumentar quando o jogador quer fazer movimentos mais ousados, Street Art aposta em uma estratégia de combinação de padrões em detrimento de um sistema cíclico de seleção de ações.

A mecânica de rondel é fascinante e vem aparecendo em jogos de destaque no mercado. Será que estamos diante de um mecanismo de jogo que vai se popularizar durante a década?

Só o tempo, cíclico ou linear, poderá nos dizer isso.

Márcio Botelho

Raça: Humano. Alinhamento: caótico e bom. Classes: Historiador 6, Crítico literário 4 e Nerd 10. Rodando que nem barata tonta.

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