Jogos 18xx: ferrovias, ações e hexágonos

INFORMAÇÕES INTRODUTÓRIAS SOBRE OS JOGOS 18XX: ORIGEM, PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E SPOILERS DE 1890

Depois do anúncio de 1890 – Plano Nacional de Viação, board game de autoria de Rennan Gonçalves que começa a ser produzido em parceria com a MeepleBR, muita gente ficou animada com a possibilidade de experimentar um jogo 18xx feito no Brasil.

Mas para muitos praticantes do hobby, surgiu uma dúvida: o que é um jogo 18xx?

Pegue o jornal de negócios, ajeite sua cartola e se prepare para começar a conhecer esse universo fascinante de ferrovias e especulações.

Por que o nome 18xx?

A adoção do termo 18xx está ligada ao nome dos dois primeiros jogos dessa tradição: 1829 e 1830: Railways & Robber Barons, ambos criados pelo game designer inglês Francis Tresham e lançados entre meados dos anos 1970 e 1980.

O ano que está no título designa o momento de início de algum plano de expansão ferroviária na região explorada pelo jogo. Como exemplo, podemos citar o próprio 1830: Railways & Robber

Barons, pois em 1830, no nordeste dos EUA, houve um grande plano de incentivo para a construção de ferrovias.

No caso do jogo desenvolvido pelo Rennan Gonçalves, o 1890: Plano Nacional de Viação, a data de 1890 marca o início de um dos primeiros planos de estímulo para a instalação de ferrovias no Brasil e que serviu como ponto de partida para a construção de diversas linhas férreas em nosso país.

Características gerais

O termo 18xx é utilizado para descrever jogos baseados na gestão de empresas ferroviárias e na compra e venda de ações das mesmas durante o século XIX.

Durante a partida os jogadores, no geral de 2 a 6, podem comprar e vender ações, assumir a presidência das companhias, construir trilhos, obter lucros e distribuir dividendos.

No geral, um jogo 18xx tem rodadas divididas em duas etapas:

• na fase de mercado de ações os participantes podem adquirir, ou se livrar, de títulos das companhias ferroviárias. Nesse momento podem acontecer diversas flutuações no valor de mercado das empresas;
• na fase de operação as companhias vão construir trilhos, adquirir locomotivas e efetivamente realizar operações de transporte em suas linhas férreas. No geral, é nessa fase que as empresas podem pagar dividendo aos seus acionistas ou reterem os lucros para novos investimentos.
  

  

Na maior parte dos casos, ao final da partida vence o participante que obtiver o maior lucro pessoal.

Outra marca importante desse tipo de jogo são as famigeradas peças e mapas hexagonais. As peças com trilhos e cidades representados em sua superfície, são encaixadas no mapa, o que sinaliza a ampliação da malha ferroviária e cria uma identidade visual facilmente reconhecível pelos amantes desses jogos.

As duas famílias de 18xx

Apesar das semelhanças existentes entre todos os jogos da linha 18xx, é possível dividi-los em dois grandes grupos. Claro que não podemos falar de uma linha clara que separa estes grupos, pois existem muitos que ficam no meio do caminho entre um e outro, mas é um bom jeito de compreender melhor esses jogos.

O primeiro grupo é o dos 18xx que tem foco na fase de operação. Nesses jogos o principal mecanismo de incremento de receitas, e por conseguinte de aumento da sua chance de vitória, se encontra na boa gestão das empresas e nas suas operações. Esse estilo de 18xx premia o jogador que domina a arte de gerenciar uma companhia mantendo seu caixa saudável e distribuindo os dividendos na hora certa.

O segundo grupo de 18xx possui foco na fase de mercado de ações. O jogador que souber analisar melhor o mercado, entendendo quando deve agir para manipular o preço das ações, acaba tendo vantagem. A especulação financeira se torna o centro do jogo, podendo abalar até mesmo as companhias que possuam operações saudáveis e lucrativas.

18xx são jogos difíceis?

Uma opinião comum sobre esse tipo de jogo diz respeito ao seu alto grau de complexidade. Se você perguntar por aí, ou se der uma olhada nos fóruns da Ludopedia e da BGG, vai descobrir que para muita gente os 18xx são complicados, burocráticos e até mesmo “impossíveis de se entender”.

De fato, a complexidade desses títulos é acentuada, exigindo muito raciocínio por parte dos jogadores, entretanto, se compararmos jogos 18xx com board games do estilo euro, tais como CO2: Segunda Chance e Lisboa de autoria de Vital Lacerda, ou ao brasileiro Luna Maris, a diferença no grau de complexidade é quase imperceptível. Em certa medida, podemos dizer que a imagem de que os jogos 18xx são “difíceis demais” é mais um preconceito do que uma dificuldade real que deva preocupar os jogadores.

Tempo, tempo, tempo…

Outra opinião muito difundida sobre os 18xx diz respeito a longa duração das partidas. Não é incomum vermos relatos de jogos que duram 6 ou mais horas, um tempo muito acima do que vemos em amerigames, como Zombicide, ou eurogames, como Terraforming Mars.

Devido a complexidade das regras, mas principalmente a necessidade de planejamento dos jogadores, os jogos da linha 18xx realmente tendem a ter partidas longas e que exigem grande atenção por parte dos participantes.

Quer dizer que eu vou gastar o dia inteiro em uma partida do 1890: Plano Nacional de Viação?

Na verdade, não!

O Rennan conseguiu bolar uma inovação sensacional no jogo dele: logo no começo é possível modificar alguns objetivos para diminuir ou estender a duração da partida. Essa ideia garante jogos mais rápidos e diretos, para jogadores iniciantes, ou longos e cheios de nuances, para aqueles que já têm experiência com esse estilo de jogo.

Os 18xx são fascinantes, podendo ser a próxima etapa para os jogadores que curtem um eurogame, mas que estão em busca de algo diferente daquilo com que estejam acostumados.

Fiquem de olho, pois na semana que vem começa o Diário do designer – 1890, uma série de postagens regulares que vai apresentar a trajetória de desenvolvimento do primeiro 18xx brasileiro!