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  • Por: Rafael Rix Geronimo
  • Publicado em: 3 de junho de 2020

OBSERVAÇÃO: o texto a seguir é baseado no artigo “Jogos de tabuleiro e ensino, em busca de interfaces”, que está em vias de publicação.

Diálogos entre educadores e board gamers

Segundo a Base Nacional Curricular Comum, para abreviar BNCC, documento elaborado pelo Ministério da Educação e que estabelece como deve ser o ensino em todo o Brasil, os jogos podem ser norteadores do processo de desenvolvimento das crianças nos anos iniciais do ensino fundamental.

Além disso, cita a necessidade de conexão entre jogos e os conhecimentos que se deseja ensinar, permitindo um processo de formalização. Então, esse documento de referência deixa clara a necessidade de que algum conhecimento, presente no currículo, seja abordado no jogo e que exista a obrigação de uma sistematização. Essa abordagem é desafiadora, visto que os jogos não poderiam ser jogados apenas pelo prazer de jogar, mas estariam interligados com elementos do currículo.

Pesquisas sobre jogos na sala de aula

Fazendo uma busca no repertório de teses e dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, a CAPES, que é um órgão nacional que coordena as pesquisas de diversas áreas no Brasil, podemos encontrar alguns estudos referentes ao uso de jogos na educação.

Chama a atenção que na maior parte das pesquisas levantadas até o momento os professores utilizaram jogos de perguntas e respostas para tentar desenvolver os conteúdos nas salas de aula.

A partir desses dados podemos formular a hipótese de que, em sua maioria, os professores não estão familiarizados com os jogos de tabuleiro modernos, restringindo-se a reproduzir jogos de perguntas e respostas, mais simples e próximos a uma abordagem tradicional de ensino, preparando materiais que não apresentam grande diversidade.

A contribuição dos board games

Uma limitação em usar jogos de perguntas e respostas é que os alunos podem perder o interesse rapidamente, pois na maior parte destes jogos apenas a memória é exigida por parte dos jogadores. Sendo assim, quem não tiver uma boa memória vai sentir dificuldades para se sair bem, vai se frustrar e deixar de ver aquele jogo na sala de aula como algo interessante.

Se pensarmos nos jogos de tabuleiro modernos, também conhecidos como board games, vamos ver uma série de mecânicas – os métodos e regras que compõem um jogo – que trazem variedade, desafio e alto grau de diversão para os participantes.

Para exemplificar, vamos citar três mecânicas que poderiam ser aplicadas aos jogos em sala de aula.

  • Pontos de ação: nessa mecânica cada jogador tem uma certa quantidade de pontos por rodada, que são gastos para realizar determinadas ações. Nessa mecânica, todas as ações custam pontos, que são distribuídos no começo da rodada. O jogador escolhe o que fazer, executa sua jogada e passa a vez ao próximo. Esse tipo de mecânica pode ser utilizado para treinar planejamento, sendo preciso contar pontos para realizarem ações, mas também pode ser empregada para realizar dinâmicas com o objetivo de treinar somas e subtrações de pontos de ação, por exemplo.

  • Controle de área: jogos com esta mecânica bonificam o jogador com a maioria de unidades ou de influência em uma região de um mapa ou tabuleiro. É importante deixar claro que dois ou mais jogadores podem colocar peças na mesma região do tabuleiro. Quem obtiver a maior quantidade de peças é que controla a área. Para sala de aula podem existir dinâmicas de negociação, onde os estudantes têm de convencer seus colegas a ocupar uma área da sala de aula ou pode ser criado um tabuleiro, em que a cada ação correta (uma conta, uma resposta, etc.) o discente tenha o direito de ocupar uma casa do tabuleiro.

  • Gerenciamento de Mão: está presente em jogos de cartas que bonificam os jogadores pôr as usarem em certas sequências ou grupos. Administrar sua mão significa conseguir o melhor valor das cartas dentro de determinadas circunstâncias. Em sala de aula poderiam ser utilizadas para tratar de conhecimentos em que é preciso organizar informações em grupos, como a classificação de substâncias como as da tabela periódica, por exemplo.

Algumas considerações

Jogos de tabuleiro voltados para sala de aula são importantes como uma ferramenta para o ensino, também podendo contribuir para a popularização do hobby no Brasil. Entretanto o que se observa é um descompasso entre os educadores, que parecem dispostos a utilizar jogos como estratégia pedagógica, os praticantes e os desenvolvedores de jogos de tabuleiro modernos, interessados na expansão do hobby.

O diálogo entre estes grupos poderia ser benéfico para ambos, levando os docentes a conhecerem uma maior variedade de mecânicas que poderiam ser aplicadas aos jogos feitos com objetivos pedagógicos, ao mesmo tempo em que forneceriam informações preciosas para os designers de jogos que estejam dispostos a desenvolver produtos para atender as necessidades das escolas.

Rafael Rix Geronimo

Mestre em Ensino de Matemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Doutorando em Educação Matemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

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