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  • Por: Márcio Botelho
  • Publicado em: 3 de julho de 2020

Entrevista – Laíse Lima

Quando pensamos no Oficinas Lúdicas, pensamos em Laíse Lima. Sempre aparecendo nas lives que o grupo vem organizando nas redes sociais, Laíse tem feito um trabalho sólido e constante para tentar integrar o lúdico ao educacional.

Nessa entrevista falamos do seu trabalho a frente do grupo, das experiências com o lúdico na educação, de seu livro recém lançado e do melhor jogo do mundo.

NOTA: na sua última participação em nosso blog, Laíse falou bastante sobre o cenário de board games na Bahia. Para quem quiser saber mais sobre este assunto, basta clicar no link.

Como já é uma marca no nosso blog, vou pedir para você se apresentar para a nossa audiência: quem é Laíse Lima?

Antes, agradeço muito pelo convite, é um prazer, mais uma vez, aparecer por aqui! A Meeple BR têm sido uma grande parceira na expansão do hobby e na visão do jogo para além do jogo, trazendo aprendizado de forma divertida e literalmente moderna!

Vamos ver se consigo definir quem é Laíse Lima, às vezes é um pouco complexo. Em resumo, uma pessoa apaixonada por criatividade, jogos e educação, que descobriu a sua vocação unindo essas 3 paixões. Sou fonoaudióloga, apesar de muitos acharem que vim da pedagogia. Entrei na faculdade de fonoaudiologia pensando em trabalhar com música, e sai da faculdade decidida a fazer algo pelo nosso sistema educacional. Hoje também sou especialista em Gestão de Projetos e Psicopedagoga.

Como surgiu a ideia do Oficinas Lúdicas?

Uma junção de momentos de ociosidade, que hoje eu digo que foi um ócio criativo rsrsr! Quando me formei em fonoaudiologia, em 2012, estava com a cabeça fervilhando dos estudos sobre letramento e sobre as teorias da educação. Procurei trabalho na minha área, mas não encontrei nada que fizesse meus olhos brilharem. Então, uns seis meses depois de formada, descobri um evento chamado Tabuleiros da Bahia, que iria acontecer num fast food da cidade.

Decidi ir ao evento, já que estava fazendo vários nadas, e achei que iria esfriar a cabeça, matando a saudade de jogar xadrez, Detetive e War. Mas, quando cheguei, fiquei perdida. Vi uma mesa cheia de jogos que eu nunca tinha visto, todos em inglês (eu tinha trauma de inglês nessa época). Me convidaram para jogar uma partida de Puerto Rico (sim, já comecei com um jogo pesado!) e, lembro como se fosse hoje, durante a partida uma pergunta simplesmente surgiu na minha cabeça: Por que isso não é utilizado na escola ainda?

Mal sabia que aquele dia iria mudar a minha vida. Comecei a buscar mais informações sobre o hobby e, como uma boa iniciante, a comprar joguinhos, ainda poucos, pois na época não era tão fácil ter acesso aos jogos modernos. Aquela pergunta da minha primeira partida começou a incomodar e me impulsionar a fazer algo. Então eu falei: “quer saber, vou levar isso para as escolas”. Comecei a procurar pessoas que já faziam isso e, para minha surpresa, só encontrei uma pessoa, o Fernando Tsukumo do, ainda ativo, projeto Sua Vez. Ele me passou todo o material de estudo que tinha e eu escrevi o Projeto Educacional Oficinas Lúdicas.

Encontrei, nesses eventos, o Alisson Belém, que também queria levar jogos, especificamente os clássicos orientais, ao ambiente educacional. Unimos forças e em fevereiro de 2014 começamos a trabalhar como projeto piloto e pioneiro numa escola de comunidade de Salvador, atendendo alunos dos 6º e 7º anos. Permanecemos 1 ano inteiro na escola e, ao final, chegamos à conclusão de que “é possível aprender jogando!”.

Não paramos mais, são 7 anos de didática. Hoje eu dirijo o Oficinas Núcleo Bahia, que tem uma equipe de 27 pessoas, junto com a Silvani Neri, que chegou um pouco depois no projeto. O Alisson começou as atividades no Núcleo Pará, com uma equipe de 7 pessoas. Temos o Núcleo Natal, coordenado pelo Diego Azevedo, em parceria com o Historiart Estúdio, mais voltado para jogos narrativos na educação. E nosso filho caçula é o Núcleo Recôncavo, sob a coordenação de Maria Aline Rodrigues, atendendo algumas cidades de mais difícil acesso do interior baiano, mais um grande sonho que vamos começar a realizar.

Atualmente, qual o principal público que busca o trabalho de vocês?

O carro chefe do nosso trabalho é a capacitação de professores. Por longos 4 anos nosso atendimento principal era aos alunos, e continuamos fazendo oficinas com eles, pois acreditamos que é impossível falar ao professor sem estar no papel do professor e entender como é sua realidade. Contudo, entendemos que são os educadores que estão na linha de frente do processo de ensino/aprendizagem. São eles que precisam ser habilitados a uma nova metodologia.

Além dos professores, um público mais recente, mas que têm nos procurado constantemente, são gestores e profissionais de RH. Relutamos a entrar no mundo corporativo, mas a demanda é enorme e há 2 anos sentimos que era hora de nos aventurar na aplicação de jogos no ambiente empresarial. Têm dado muito certo, principalmente pelo fato de não trabalharmos apenas com os chamados Jogos Sérios (Serious Games), mas principalmente com os jogos modernos do hobby, aplicados dentro da realidade corporativa.

Como os jogos de tabuleiro podem ser uma ferramenta no processo de aprendizagem?

Gosto, sempre, de falar que o aprendizado precisa ser consequência de uma atividade contextualizada, motivadora e desafiadora. E por que não, divertida? Naquela primeira partida de Puerto Rico eu percebi o grande potencial que os jogos têm de carregar o conhecimento de forma implícita, e essa é uma das chaves que tornam os jogos de tabuleiro modernos uma ferramenta valiosa no processo de aprendizagem.

Gosto de dividir, de forma didática, 3 grandes conjuntos que podem ser aprimorados através dos jogos.

1. Princípios e valores: Respeito, solidariedade, empatia. Saber ganhar e saber perder pode ser um aprendizado que mudará nossa relação com a vida!

2. Habilidades e competências: Raciocínio, estratégia, comunicação, gestão, liderança, negociação, inteligência emocional. Dispensa comentários!

3. Conhecimentos científicos: esse conjunto é o alvo da maioria das perguntas dos professores. Como ensinar biologia, matemática, geografia, inglês, através dos jogos? Então respondemos que, se o professor se aprofundar nos 2 primeiros conjuntos, este terceiro vai se tratar apenas de escolher os jogos certos para passar conteúdos específicos. O aprendizado é consequência!

Você diria que ainda existe resistência para o uso do lúdico no espaço escolar?

Não tenho dúvida que existe! E não é algo do Brasil, é geral. São poucos os exemplos de escolas que entenderam o poder do lúdico. O engraçado é que, elas sempre acabam saindo do grande currículo matriz das bases escolares, pois entenderam que o aprendizado não pode ser tratado como um produto que está dentro de uma caixinha para ser comercializado. Aprender é responder às questões do mundo, e não se responde as questões do mundo dentro de uma sala na qual o professor representa a parte detentora do conhecimento e o aluno é apenas ouvinte. Aprender pressupõe explorar o novo, ter curiosidade de perguntar e perder o receio de errar e mudar.

Jogos de tabuleiro modernos na aprendizagem”, seu livro recém-lançado, tenta auxiliar profissionais da educação que queiram aplicar o lúdico em seu trabalho. Quais as principais dificuldades encontradas por eles?

O grande primeiro receio é lidar com o novo. Se reinventar não é fácil, estamos todos experimentando isso, neste momento. Os professores olham o trabalho e ficam maravilhados, mas como fazer, na prática?

E acho que a parte prática é uma das maiores dificuldades, porque para achar a teoria, existem livros, artigos, autores… existe o Google! Mas como aplicar a teoria de forma prática? Como lidar com uma sala grande? Onde encontrar esses jogos? Como trabalhar de forma interdisciplinar? Como escolher os jogos certos, com o tempo ideal e aplicá-los de forma eficiente?

Foi isso que buscamos trazer no livro, conselhos práticos, embasados de muita teoria, mas vividos na real, durante 7 anos trabalhando diretamente com alunos, professores e outros profissionais.

Qual foi o maior desafio durante a elaboração do livro?

Fazer com que a teoria não predomine. Acreditamos demais que a teoria é essencial, mas a prática vale mais do que mil palavras. Eu não queria que o livro fosse como uma aula expositiva, na qual cito vários autores, dou várias referências e o professor que se vire para entender como aplicá-las. Esse não é o padrão Oficinas Lúdicas, mas confesso que é difícil pensar por esse ângulo, é mais demorado.

A área de educação, assim como os jogos analógicos, foi bastante afetada pela pandemia do novo corona vírus/covid-19. Como a pandemia tem impactado o trabalho de vocês?

Imagina só que a nossa fala gira em torno dos momentos offline! Recebemos um balde de água gelada nas costas! A reinvenção exigiu tempo, preparo e coragem. Nosso trabalho interno não mudou muito, pois boa parte das reuniões administrativas e decisões de coordenação já são feitas online. Mas a essência do nosso trabalho foi diretamente afetada e isso nos trouxe um pouco da noção dos que os professores também sentiram. “E agora, o que fazer?”

Sentimos a urgência de fazer uma reestruturação porque vimos a aflição dos professores em ter que mudar seu modo de atuação, então estamos continuamente tentando acompanhar esse nosso presente e reinventando, todos os dias temos uma nova descoberta.

Para finalizar, ficamos sabendo que você gosta muito de um certo jogo de ficção científica da MeepleBR. Pode falar um pouco sobre essa paixão?

Fui eu que pedi essa pergunta, só pra dizer que quero a Big Box do Terraforming Mars, com todas as expansões, peças em 3D e caixa de luxo, se virem! Hahaha Foi um prazer falar um pouco de mim para a editora do meu jogo TOP1!

Márcio Botelho

Raça: Humano. Alinhamento: caótico e bom. Classes: Historiador 6, Crítico literário 4 e Nerd 10. Dando aquela lida no manual do Maracaibo.

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