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  • Por: Márcio Botelho
  • Publicado em: 5 de junho de 2020

Entrevista – Fernando Celso Júnior

Nos últimos cinco anos o Board Games São Paulo vem agitando o cenário dos jogos analógicos na capital paulista. Este evento mensal já apresentou os jogos de tabuleiro modernos para milhares de pessoas, sempre em um ambiente familiar e convidativo.

Um dos grandes responsáveis pelo evento, o Fernando Celso Júnior, bateu um papo com a gente sobre o cenário dos board games, as características dos jogadores brasileiros e as mudanças trazidas pela pandemia.

Fernando, você é muito conhecido no meio dos board games, mas para quem ainda não te conhece, você poderia se apresentar?

Sou só o Fernando (risos)

Sempre gostei bastante de jogos, e comecei com videogames como quase qualquer moleque da década de 80-90 que tinha acesso a eles (fliperama também conta #saudades).

Comecei com o RPG aos 10 anos, um hobby que me fez muito bem de diversas maneiras e cheguei aos board games (ou pelo menos quando sabia que esse era um novo termo, um movimento) lá pelos idos de 2006. Foi meio que uma coisa puxando a outra.

Hoje trabalho profissionalmente com jogos modernos através do BGSP, que vai muito além dos eventos, e posso dizer que com isso, pra mim, o hobby e a parte profissional se misturam bastante, então tem muito amor envolvido no trabalho.

Gosto bastante de passar tempo com a minha esposa e filha, sou um cinéfilo e amante de séries. Hoje infelizmente leio menos literatura do que antigamente, mas já estou corrigindo esse desvio de caráter.

Quando e como se iniciou o seu contato com os jogos de tabuleiro modernos?

Foi lá por 2004 que conheci alguns jogos modernos, Axis & Allies (considero ele um moderno sim), Catan e o Carcassonne, aí foi ladeira abaixo (risos)

Claro que tudo era menos acessível naquela época, você só conseguia acesso importando ou jogando de amigos e ainda havia muito poucas informações sobre os jogos. A internet estava crescendo ainda, então o mundo globalizado e fácil que temos hoje estava se formando e consolidando.

Eu sempre brinco que naquela época nem tinha mato ainda, estávamos plantando grama porque o chão era de terra batida.

Qual seu tipo favorito de board game?

Eu meio que nasci no ameritrash, então acho que sempre vou ter uma quedinha por jogos lindos e com belas miniaturas, é nesse momento que meu coração bate mais forte (risos).

Mas sou bem satisfeito em dizer que gosto de todos os tipos de jogos, desde o festivo até o euro mais pesado. Acho que o nosso hobby é magnífico por isso, temos uma diversidade imensa e quem está aberto as possibilidades consegue aproveitá-lo mais ainda.

Vamos falar um pouco do BGSP. Como surgiu a ideia do evento?

Em Abril de 2015 tive a iniciativa de criar um grupo no Facebook voltado à jogadores de SP. Até me espantei que não havia um na época. A ideia inicial era aproximar as pessoas que jogavam na capital, mas obviamente, isso se estendeu rapidamente para o restante do estado.

Logo no mês seguinte o grupo começou a se movimentar pra se encontrar e jogar, então fizemos o contato com uma loja e lá estávamos: 25 pessoas no nosso primeiro encontro.

Os próximos encontros começaram a ter uma maior procura de pessoas, era tudo muito espontâneo, amigável e colaborativo, até que chegamos no nosso 4º encontro que veio com uma cara mais profissional. Iniciamos e criamos ações que quase todos os demais eventos que vieram depois acabaram imitando, nada contra, como: participações especiais em destaque, sorteios de jogos, o lance de tirar fotos e publicar nas redes sociais foi filho nosso, monitoria, e a profissionalização dela, e é claro, a presença de patrocinadores.

Aliás, a Meeple BR, na época, peças, foi nosso primeiro patrocinador e está com a gente desde então. ❤️

No 4º Encontro tivemos o Jack Explicador, com a gravação de um especial de TV e a presença de mais de 170 pessoas. Foi muito legal e um grande divisor de águas.

Qual, ou quais, os maiores desafios que você enfrentou para manter o BGSP funcionando com regularidade mensal?

De uma forma geral, sempre tivemos que nos adaptar às mudanças, e se você analisar bem a evolução do hobby aqui no Brasil por todos esses anos, ele muda bastante até de ano em ano. Na maioria das vezes as mudanças foram boas, nos empurraram para frente e para um movimento de expansão e crescimento, algumas poucas ocasionalmente foram ruins, mas sobrevivemos e estamos firmes e fortes.

De maneira geral, nosso constante desafio é acomodar e atender cada vez mais gente que vem aos nossos eventos mensais. Nossa média de público é de 300 pessoas, mas chegamos no pico de quase 400 e facilmente batemos os 350… é bastante gente!

Posso dizer também que as pessoas não imaginam o esforço e a dedicação que envolve manter o evento funcionando mensalmente. É muito trabalho, muitas pessoas e empresas envolvidas, muitas noites em claro também. Até chegar no final do mês na realização do evento de fato, tem mais de um mês de organização e planejamento.

Muita gente já jogou durante o BGSP. Você sabe nos dizer que tipo de jogos mais chamam a atenção do púbico?

Olha, um dos fatores que mais me orgulho do BGSP é a diversidade do público que frequenta o evento. Tem espaço pra todos os gostos.

Temos famílias inteiras jogando juntas, amigos, novatos, curiosos, gamers… E sempre tem jogos pra todos eles. Acho que isso reflete muito o que disse antes em relação a diversidade de gostos e possibilidades dentro do nosso hobby.

Os monitores e toda a equipe são bem solícitos em ajudar e oferecer o que as pessoas procuram, que nada mais é do que diversão, descontração, e um ambiente amigável pra tudo isso.

Então seria injusto eu apontar um ou outro tipo de jogo, acho que de uma forma geral, depende muito dos lançamentos, novidades e também do grupo.

Eu poderia dizer aqui que os festivos chamam mais atenção por fazerem mais barulho no evento, que os familiares são mais acessíveis, mas temos filas enormes pra jogar Catan e vários eurogames que requerem concentração e dedicação também.

Em sua opinião, qual a importância dos eventos para o hobby?

Acho que são essenciais para o hobby crescer: as pessoas se conhecem, tem contato com jogos novos, interagem com profissionais da área, formam grupos de jogo, trocam informações, criam amizades e laços, fazem negócios e muito mais.

Por isso os eventos precisam do apoio das editoras. Felizmente temos ótimos parceiros que entendem e valorizam isso, como a Meeple BR entre diversos outros. Investir em eventos é investir na propagação e no crescimento do hobby, o que ajuda a todos, não é um favor.

É um lazer especial todo voltado para esse público que cada vez mais é engajado em jogos modernos e é fundamental para que outras pessoas tenham acesso a eles de maneira divertida, espontânea e lúdica.

E afinal, os jogos modernos e tudo que envolve eles, não tem como base principal o que falei acima?

No dia 30 de maio de 2020 ocorreu o BGSP online, primeira edição do evento nesse formato. Você já tem um balanço dessa edição?

Foi incrível, um enorme sucesso! (Muita emoção aqui e algum cisco caiu no meu olho)

Registramos pelo menos 149 pessoas jogando online nas mesas que criamos pelo Tabletopia (com organização no Discord) durante todo o evento, o que é um número muito bom. Ao todo foram 69 mesas de Board Games (com 18 jogos diferentes), 3 mesas de RPG e uma Oficina de RPG ministrada pelo querido Jaime Cancela.

Sem falar claro na participação de muitas outras pessoas nas sensacionais lives e palestras.

A recepção e a repercussão foi enorme e muito positiva, o que me deixou muito feliz, principalmente pra uma primeira edição com algo totalmente novo.

Você acredita que os eventos online poderão substituir os presenciais após o término da pandemia?

Especula-se muito sobre o que pode acontecer, das mudanças na sociedade, em como vai nos afetar, etc… Mas a grande realidade é que não sabemos.

Não temos a mínima ideia. As diversas suposições são em cima de um acontecimento inédito e chegam a ser alarmantes, apocalíticas, e por vezes até engraçadas.

Eu aqui cumprindo o meu papel especulativo, acredito firmemente que não. Os eventos são maneiras de ver pessoas, ter contato humano. A internet e redes sociais já temos há tempos e os eventos online hoje são uma alternativa pra algo que no momento não temos solução. Com uma possível cura, tratamento e vacina, as coisas vão voltar ao que eram antes.

Claro que alguns comportamentos podem mudar, algumas medidas preventivas e sanitárias talvez, mas acredito que isso seja a curto prazo. Muita gente vai ter medo, muitos vão ter fobia, vai nos afetar, claro. Mas o mundo vai continuar girando da forma louca que conhecemos anteriormente.

Mas uma coisa interessante que suponho também é que os eventos online podem continuar como uma alternativa e uma nova opção para alcançar diferentes públicos .

Para finalizar, você poderia nos contar quais são os seus próximos planos em relação aos board games?

No momento, sobreviver pra contar história (risos).

Já tínhamos muitos planos pra diversos eventos spin-off do BGSP, como o BGSP Gourmet que tivemos duas edições há dois anos atrás e vários eventos em shoppings, restaurantes e outros lugares tanto em São Paulo como em Santa Catarina, visando fomentar e alcançar público fora do nicho, algo que achamos essencial.

Temos também uma edição especial, o Mega Encontro BGSP também planejada pra 2020 que automaticamente foi pro ano que vem.

De restante, estamos aumentando e afinando o escopo dos nossos outros serviços (prestamos consultoria e assessoria a empresas do ramo, serviço de mídias sociais e marketing, monitoria para editoras e eventos diversos, etc)


Tem muito trabalho pela frente ainda!

Márcio Botelho

Raça: Humano. Alinhamento: caótico e bom. Classes: Historiador 6, Crítico literário 4 e Nerd 10. Se embananando com as layers do Roll20, mas mesmo assim mantendo uma regularidade quase semanal de sessões de RPG!

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